quinta-feira, 18 de junho de 2015

ETIÓPIA LIVRE: As batalhas pela manutenção da independência durante o período colonial africano.

A História da Etiópia sempre esteve marcada pelo sentimento de liberdade existente nesse país. Considerada o símbolo da independência africana, a nação etíope é a única que, embora tenham havido duas investidas/tentativas de colonização por parte dos europeus, se manteve independente e afirmando essa independência sempre que necessário, muitas vezes por meio de guerras.
Pensando nisso, resolveu-se trabalhar um pouco da História das tentativas de colonização na Etiópia, partindo do intervalo da década de 1880 (com a Conferência de Berlim) até o ano 1974, quando o reinado de um dos mais influente governadores etíopes, Hailê Selassiê, chegou ao fim após ser deposto por uma junta militar marxista-lenista, chamada Derg e liderada por Mengistu Haile Mariam, que instalou um sistema de governo unipartidário no país.
A história de tentativas de colonização da Etiópia, começa por volta da década de 1860, quando Giuseppe Sapeto, membro italiano da ordem religiosa de São Lázaro, comprou o porto de Assab de um sultão local. Esse porto tornou-se sociedade de uma companhia italiana de navegação e foi transformado em colônia italiana, em 1882.
Nesse período o Egito (sob domínio britânico) havia dominado grande parte da costa africana do Mar Vermelho, bem como o território do porto de Massawa, no nordeste da Etiópia, e estava em guerra com o Sudão. Devido aos avanços das tropas sudanesas, os britânicos foram obrigados a se retirar e retirar suas tropas (egípcias e britânicas), recorrendo ao auxílio do Imperador etíope Yohannes.
Ao fornecer auxílio aos britânicos, o Imperador pediu-lhes, em troca a restituição dos territórios etíopes, conquistados pelos sudaneses e também a posse do porto de Massawa. Ao que tudo indica, a primeira exigência foi concebida e respeitada, mas o mesmo não ocorreu com a segunda (uma vez que a Grã-Bretanha tinha planos de barrar a entrada dos franceses por esse lado da costa), concedendo aos etíopes somente o passe livre de comércio de mercadorias e armamentos sob a proteção britânica.
Essas decisões acabaram por gerar um acordo, que foi assinado em 1884. Esse acordo, porém, não foi respeitado e, em 03 de fevereiro de 1885, os povos italianos tomavam para si o porto de Massawa, sob o consentimento dos britânicos. Isso acabou por eclodir em uma guerra entre Etiópia e Itália que somente terminou com a morte do Imperador em 1889 e a assinatura de um tratado de amizade por seu substituto, Menelik II.
Nesse tratado ficou decidido que o ras Melik II reconheceria a Itália como soberana da costa etíope, enquanto os italianos reconheceriam Menelik como Imperador, porém, as coisas não saíram como esperado e quando Menelik II foi coroar-se imperador, recebeu a notícia de que só poderia fazê-lo caso a Itália permitisse, uma vez que a Etiópia era protetorado italiano, ou Abissínia Italiana, como os italianos chamavam.
Isso provocou a revolta do Imperador, uma vez que a Etiópia sempre tivera meios de caminhar com as próprias pernas.
Entre 1891 e 1894 a Grã Bretanha assinou com a Itália, três protocolos que fixavam as fronteiras entre a Etiópia e as colônias inglesas do Chifre da África e do Vale do Nilo. Enquanto isso, Menelik comprava fuzis e canhões na França e na Rússia e anexava várias províncias ao sul e sudoeste, formando o atual território da Etiópia. No início de 1893, Menelik informou às potências europeias que estava denunciando o Tratado de Uccialli. Naquele momento, ele já tinha acumulado 82 mil fuzis e 26 canhões. A guerra com a Itália começou no final de 1894. (LHAMY. A ocupação colonial da África – da Conferência de Berlim à Primeira Guerra Mundial. p. 28).

A guerra eclodiu e os italianos estavam com uma pequena vantagem inicial, pois ocupavam grande parte do Tigre. Porém, Menelik II conseguiu forçar o recuo dos adversários e assim a vitória, no território de Andowa. Após a derrota, a Itália teve que assinar um novo tratado que anulou parcialmente (pois não restituiu à Etiópia o território da Eritreia) o antigo tratado entre etíopes e italianos.
Essa vitória consagrou o país da Etiópia como o único país africano independente e até hoje ela é festejada em toda a África, pois foi a única vez que os colonizadores tiveram que recuar.
Além desse feito grandioso, o Imperador Menelik II também foi responsável por diversos outros feitos, sendo considerado, durante uma época, “um soberano verdadeiramente amigo do progresso”, pelo médico italiano De Castro. Dentre os feitos deste, os que mais se destacam são a fundação de Adis Adeba, capital do país, emm 1880, a reorganização do sistema fiscal em 1892 e a emissão das primeiras moedas nacionais em 1894.
Por volta do ano de 1928, já sob regência de Hailê Selassiê, a Etiópia assinou um novo tratado com a Itália, garantindo amizade de 20 anos entre essas duas nações, no mesmo ano também foi assinado por eles o Pacto Kellogg-Briand, que previa a renúncia à guerra como instrumento de política nacional.
Porém, esses dois tratados não foram respeitados pelos italianos e os mesmos invadiram a Etiópia, com o objetivo de dominação/colonização, em 1935. Em 1936 Selassiê se viu obrigado a se retirar para o exílio na Inglaterra, deixando sua terra, seu posto de Imperador e todo o poder que nele era contido.
Durante o exílio do Imperador, os italianos conseguiram se estabelecer no território Etíope. Enquanto isso, Selassiê buscava fazer alianças em prol do bem-estar do seu país, que lhe fora usurpado.
Foi somente em 1941, que Hailê conseguiu reaver o trono, quando este, aproveitando a situação de preparação para a guerra que a Itália estava vivendo, invadiu as terras etíopes e, com o auxílio de tropas britânicas, conseguiu derrubar a Itália do comando do país e expulsar todos de lá.
Depois disso, Hailê promoveu a reforma e recuperação da Etiópia, devastada pela guerra. Instituiu um imposto progressivo sobre a propriedade de terras. Em 1955 promulgou uma nova constituição etíope, que instituiu, entre outras medidas, o voto universal, mas também concentra bastante o poder nas mãos do imperador.
Como pode-se perceber, nosso relato está chegando ao fim. É necessário dizer que depois de tamanha batalha pela manutenção da independência etíope, Hailê Selassiê acaba por sofrer uma tentativa de golpe militar, durante a década de 1960, porém, esta acaba sendo frustrada, mas deixa marcas para uma segunda tentativa.
Nos anos 1970, a Etiópia já estava um tanto desolada pela fome e pelos problemas políticos e de corrupção. Em 12 de janeiro de 1974 ocorreu, então, a rebelião militar que veio a destronar o imperador. Em junho, um grupo de cerca de 120 comandantes militares, formalmente fiéis ao imperador, formou um comitê para exercer o governo. Em 27 de setembro Selassie foi deposto por um golpe militar de inspiração marxista, que instituiu um Conselho Provisório de Administração Militar. Hailê acabou sendo preso pelo novo governo e faleceu em 27 de agosto de 1975.

Um comentário:

  1. Uma boa postagem Franciele, e as gravuras no blog também ficaram bem legais...
    Seria muito bom se todos tivessem acesso a informação, cultura e conhecimento, como uma forma de entendimento e transformação das mazelas sociais...
    Sortes!

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